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SAÚDE

Orientação Psicológica da Gravidez

Terça-feira, 13 de abril de 2010


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É com enorme prazer que inicio esta coluna voltada para a preparação psicológica da gestante, com o intuito de possibilitar uma vivência mais equilibrada de todas as emoções e manifestações que ocorrem neste período.

Tão importante quanto o acompanhamento médico pré-natal é a assistência e orientação psicológica à gestante. Cada um contribuindo para a saúde física e mental tanto da mulher quanto do futuro bebê.

Por ser o período mais rico e intenso de vivências emocionais e que por si só traz, para o relacionamento familiar, novas atitudes e responsabilidades, percebemos como é fundamental o compartilhar e o esclarecimento das ansiedades e preocupações que envolvem a decisão de se ter um filho.

Embora nem sempre pensada e planejada de modo claro e explícito, pode-se dizer que, em algum momento da relação, a gravidez foi desejada para que pudesse se concretizar. Podemos pensar então, que antes mesmo da fecundação propriamente dita, o bebê já existia na cabeça dos pais ou de um deles e que culminou com o "esquecimento da pílula anticoncepcional, da revisão do cálculo da tabelinha ou até mesmo na impossibilidade de se interromper o ato sexual para colocação do preservativo".

Desta maneira, a criança é gerada e o bebê da cabeça cria vida, tornando-se real.

A partir do momento que a mulher certifica-se da gravidez, tudo o mais em sua vida será diferente. Seja qual for a decisão, de levá-la a termo ou não, esta repercutirá de modo marcante e profundo nas pessoas envolvidas. Quanto às circunstâncias, a gravidez pode acontecer num momento em que menos se espera e planeja, como é o caso de adolescentes que, ao iniciarem a vida sexual ativa, sem os cuidados preventivos necessários, acreditam que "isso" nunca vai lhes acontecer, ou mesmo de adultos que não se encontram numa relação estável, com intenção de compromisso. Além disso, existem aqueles que priorizam a carreira profissional antes mesmo de concretizar o desejo de constituir família. Em qualquer desses casos , a gravidez nesse momento pode ser inoportuna.

Ter um filho não envolve apenas uma decisão de momento, porém um compromisso para o resto da vida e é por este e outros motivos, que a balança do querer e do não querer estará sempre oscilando de um lado para outro.

Os pais se percebem mais vulneráveis emocionalmente e não encontram significado para suas questões mais profundas e remotas. Ocorre, então, um retrospecto à infância, como se regredissem até ela em busca de respostas. Neste momento, o modo como cada um percebeu e vivenciou sua família de origem, irá permear todo esse período de espera: as mesmas angústias e incertezas, as mesmas alegrias e esperanças. Assim, o modelo de pais que tiveram constituirá a base do que pretenderão ser. Imitando-o ou rejeitando-o, o modelo serão os pais de origem.

As fantasias sobre o bebê e como serão enquanto pais têm um significado absolutamente próprio para cada parceiro, pois têm a ver com a própria história de vida.

A mudança do papel social também é um fator importantíssimo a se ponderar. Durante nove meses estará se instalando, no casal grávido, uma nova identidade. Deixarão de ser apenas filhos para tornarem-se, também, pais. Novamente o modelo da família de origem entra em jogo.

A tendência em se fantasiar como pais perfeitos leva à expectativa de ter o filho perfeito, aquele que corresponderá à idealização de perfeição: o filho bonito, obediente, educado, estudioso, saudável e vitorioso. Tudo que fugir deste protótipo será percebido como um fracasso ou falha tanto pelos pais quanto pelo filho, o que poderá acarretar grande culpa. E aqui entra o maior terror da gestante, quer seja, a possibilidade de ter um bebê que apresente alguma deficiência. Se, por acaso esta ocorrer, mesmo que seja por uma questão genética, a culpa que carregará pelo resto da vida é realmente insustentável.

As dúvidas e os temores que suscitam nesse período são muito naturais e esperadas, pois toda mudança envolve perdas e ganhos. A quê deverão renunciar e o quê poderá ser preservado.

Sexualidade é outro tema que causa grande preocupação nos futuros papais, mesmo que tenha sido liberada pelo ginecologista que os assiste. É como se a relação sexual, após cumprir o seu papel mais importante que é a preservação da espécie, perdesse a função do prazer pelo prazer.

A hipersonia ou o aumento da necessidade de dormir toma conta da mulher, como se seu corpo precisasse de mais repouso e menos estímulos para se preparar para todas as mudanças físicas e psíquicas que se iniciam.

As instabilidades emocionais, num momento em que está mais sensível, fazem com que muitas vezes sinta-se incompreendida.

Náuseas e vômitos, desejos e aversões, constipação e diarréia também são sintomas comuns na gravidez, mas que também trazem consigo significados psicológicos a serem desvendados.

E o marido, como percebe todas estas manifestações e o que significam para ele, uma vez que também está se preparando para a paternidade e, desse modo, também se encontra vulnerável e à mercê de suas próprias angústias e questionamentos.

Tanto quanto o físico feminino estar maduro para abrigar o óvulo fecundado, é imprescindível que haja uma preparação emocional para acolher este novo ser.

Meu intuito neste artigo foi apenas dar uma breve pincelada nos vários temas que poderão ser abordados, no sentido de analisar o profundo significado das emoções e manifestações deste período, que pode ser o mais sublime na vida do casal, mostrando, desta maneira, que a gravidez pode ser vivenciada pelos futuros papais e mamães, com menos ansiedade e culpa e mais alegria e prazer.

Sejam bem-vindos!

Ana Maria Moratelli da Silva Rico
Psicóloga clínica

Fonte: UOL

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